quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Espera


A minha espera é exatamente igual àquelas reticências que costumam encerrar as minhas frases raivosas deixando subentendido que na verdade não queria encerrar coisa nenhuma.
Subtraindo dois pontos, a reticência vira ponto final. No fundo eu até prefiria acreditar que poderia ser um ponto para um novo parágrafo. Mas esperar por isso é colocar reticências naquela linha da nossa história, na qual eu disse que estava com saudades e você falou sobre astrofísica, macrobiótica, cooper...
Não queria que você dissesse que me amava, ou que queria se mudar comigo para um sobrado qualquer onde pudessemos adotar um cachorro grande e chamá-lo de Bruce (ou Bob, como você queria). Queria menos ainda que você se dispusesse a me dizer tudo que eu fiz - ou que eu não fiz, segundo você - de errado quando pela primeira vez algo manchou uma das páginas do nosso diário. I's sem pingos, ponto sem nó, jardim com fadas e tudo que eu mais queria era um 'também sinto falta' ou um qualquer coisa que me fizesse acreditar que pra você existia "nós" enquanto par mim sempre foi "nósemeio" mesmo no escuro.
Não esperei que você abrisse mão, que você abdicasse, mas acho que em algum momento eu esperei que você reconhecesse que na verdade eu abria mão de tudo.
"Me desculpa", "me perdoa" e mais reticências. Mais espera.
Como diria Caio Fernando Abreu "buscas inúteis e sedes afetivas insaciáveis".
Acho que no final das contas a complicada sou eu. Eu que ainda fui conferir se o telefone estava ligado, na esperança de ler mais uma vez algo semelhante ao que você me disse há um tempo atrás, quando sentiu a minha falta:  "não existiria dois se não fosse ela".

3 comentários:

  1. Nossa,que profundo. As vezes fico me questionando porque eu não crio espectativas dentro de mim, por que eu não me doou mais à alguém. As vezes até me culpo por ser frio/distante. Depois me lembro porque sou assim. É o medo disso tudo, medo de doer.

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  2. Expectativas são tão nocivas quanto a falta delas. Lembro da minha professora de Biologia que dizia que o problema do veneno é a dose leta. Você não morreria com 0,5ml de café, mas experimenta passar uma noite como essa que eu passei.

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